Tenho
quase 62 anos e repasso a série Friends pela quarta vez. Sinto na vergonha que não tenho que vou estar
com 100 anos a ver o Friends. Emendo, é uma grande maçada ter 100 anos e
portanto abdico do número, mas vou continuar vendo o Friends enquanto possa. E
se a TV do outro mundo não passar a série, de duas uma: ou desisto de vidas
eternas e outras bugigangas, ou empreendo uma luta reivindicativa que não cessa
na morte por já ser cadáver e promete não dar folga aos eternos. Sendo
necessário, crio uma sindicância do relax.
Ora
a mim mesma me intriga esta desrazão de repetir o que já sei e ainda assim me
diverte. Eu. Que detesto rever filmes e séries ou reler livros. Que pode ter a
série de especial para me conquistar o espírito - dou-me conta que a expressão não
é conquistar o espírito, o Friends enquistou em mim. Bom, admito que as séries bem
humoradas, vulgo cómicas, me agradam. Mas é insuficiente justificativo. “Uma
família muito moderna” não me faz o mesmo efeito; “The office” também não; “Conta-me
como foi” ainda menos (a mais fraca das três). Mas vejo Friends e começo a
desaparafusar; se fora um desenho animado havia porcas e molas em hélice a
saltarem-me da cabeça logo no genérico. Pavloviana, desato a gargalhar às
mesmas imagens. Parvamente. Será a série assim tão engraçada?! Para mim, É. Acorda
tempos mortos em que também eu encadeava num grupo de amigos e vivíamos
diferente, mas com emoções e sentimentos semelhantes. Aquela gente vive por nós e em modo de ampla liberdade, o que todos gostaríamos de ter experimentado. Não pensam
senão em si mesmos. Há como que um separador a isolá-los no seu mundo de preocupações juvenis estacionadas no presente. Pensar em futuro cheira a velharia. À juventude basta a hora que passa,
ela é em si mesma tão rotunda que não sobra espaço.
É
bem verdade que aprecio o tipo de humor que percorre cada episódio – fácil e ancorado em
situações divertidas -, os diálogos a
condizer e medianamente inteligentes, e o bom desempenho de actores. Até aqui
nada de novo, são ingredientes próprios deste tipo de séries. Mas não só.
Creio, sobretudo, que lhes amo a situação: são cinco jovens independentes e
amigos que vivem em andares contíguos. Isto e mais o terem a sua idade, ata-me
a eles. Quem sabe vivo neles o que não consegui, lhes invejo a possibilidade,
me anima a amizade que os une e só eu sei não ser eterna. Porque me revolvo e evolvo
naquele saber crente de ingenuidade feito. Certo é que desvaneço quando Ross
diz “it’s alwais you, Rach”; porque a gente farta-se de saber que o amor é
efémero e mutável, mas, em faz de conta, continua a querê-lo eterno e um. E não
há como a certeza convicta de Pheebs, “She’s
her lobster”.
Portanto,
sem pensar muito, sem pensar nada: Friends é a minha série preferida. It’s
alwais you, FriendsJ
Sem comentários:
Enviar um comentário