sexta-feira, 27 de maio de 2016

Friends e eu

Tenho quase 62 anos e repasso a série Friends pela quarta vez.  Sinto na vergonha que não tenho que vou estar com 100 anos a ver o Friends. Emendo, é uma grande maçada ter 100 anos e portanto abdico do número, mas vou continuar vendo o Friends enquanto possa. E se a TV do outro mundo não passar a série, de duas uma: ou desisto de vidas eternas e outras bugigangas, ou empreendo uma luta reivindicativa que não cessa na morte por já ser cadáver e promete não dar folga aos eternos. Sendo necessário, crio uma sindicância do relax.
Ora a mim mesma me intriga esta desrazão de repetir o que já sei e ainda assim me diverte. Eu. Que detesto rever filmes e séries ou reler livros. Que pode ter a série de especial para me conquistar o espírito - dou-me conta que a expressão não é conquistar o espírito, o Friends enquistou em mim. Bom, admito que as séries bem humoradas, vulgo cómicas, me agradam. Mas é insuficiente justificativo. “Uma família muito moderna” não me faz o mesmo efeito; “The office” também não; “Conta-me como foi” ainda menos (a mais fraca das três). Mas vejo Friends e começo a desaparafusar; se fora um desenho animado havia porcas e molas em hélice a saltarem-me da cabeça logo no genérico. Pavloviana, desato a gargalhar às mesmas imagens. Parvamente. Será a série assim tão engraçada?! Para mim, É. Acorda tempos mortos em que também eu encadeava num grupo de amigos e vivíamos diferente, mas com emoções e sentimentos semelhantes. Aquela gente vive por nós e em modo de ampla liberdade, o que todos gostaríamos de ter experimentado. Não pensam senão em si mesmos. Há como que um separador a isolá-los no seu mundo de preocupações  juvenis estacionadas no presente. Pensar em futuro cheira a velharia. À juventude basta a hora que passa, ela é em si mesma tão rotunda que não sobra espaço.
É bem verdade que aprecio o tipo de humor que percorre cada episódio – fácil e ancorado em situações divertidas  -, os diálogos a condizer e medianamente inteligentes, e o bom desempenho de actores. Até aqui nada de novo, são ingredientes próprios deste tipo de séries. Mas não só. Creio, sobretudo, que lhes amo a situação: são cinco jovens independentes e amigos que vivem em andares contíguos. Isto e mais o terem a sua idade, ata-me a eles. Quem sabe vivo neles o que não consegui, lhes invejo a possibilidade, me anima a amizade que os une e só eu sei não ser eterna. Porque me revolvo e evolvo naquele saber crente de ingenuidade feito. Certo é que desvaneço quando Ross diz “it’s alwais you, Rach”; porque a gente farta-se de saber que o amor é efémero e mutável, mas, em faz de conta, continua a querê-lo eterno e um. E não há como a certeza convicta de Pheebs, “She’s her lobster”.

Portanto, sem pensar muito, sem pensar nada: Friends é a minha série preferida. It’s alwais you, FriendsJ

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