Ontem
alguém que posso ter sido eu acendeu uma lâmpada no sótão e não apagou a luz.
Como a lâmpada pendura sobre os tapetes de inverno que já arrumei, aqueceu-os
quanto pôde e quando subi ao sótão havia um cheiro a fibras queimadas que galgou
mal abri a porta. Por via disto, dormi mal. Os tapetes arderam e arderia o
resto se não tenho subido naquela hora; apesar de janelas e claraboia escancaradas, o pérfido cheiro parecia colado
a tudo. Acordei antes das oito para um sábado de pouco apetite. Levantei-me e estava estranha e meia zonza.
Tomei o pequeno almoço que é o meu remédio de fazer passar tudo e arranjei o do
filho mais novo que saía cedo para um fim de semana com a namorada. Lavei-me, vesti-me,
fui estender a roupa a aproveitar que
não chovia (as máquinas, por serem máquinas, trabalham de noite sem canseira);
arranjei e temperei o frango para a cabidela, fiz a salada, cortei a cebola
para refogar. E fui varrer a rua que o vento e a chuva nocturnos tinham enchido
de folhas. Voltei a casa e fiz a cama do rapaz, engraxei-lhe os sapatos, deitei
a roupa suja ao cesto e abri a janela a arejar o quarto. Como ainda estava
zonza pensei medir a tensão: 9,3-7,2, pareceu-me estranho e fui fazer o almoço
e a gelatina do pudim para amanhã. Entretanto, fui virando a roupa e apanhando
a que enxugava; dobrei e arrumei o que não é de passar e guardei no cesto a que
tem de levar ferro; separei a que amanhã terei de passar a ferro para o filho
levar. Subi e arrumei o meu quarto. O
outro filho acordou, tomou banho, desceu e pôs a mesa. E almoçámos mal o pai
chegou para voltar a sair. Pus a loiça na máquina, lavei alguma e arrumei copa
e cozinha. Eram quinze horas quando terminei. Levei um garrafão de lixívia para
o carro e mais umas luvas de latex e roupas velhas e fui para casa de meu pai.
Até às 17, 30 esforcei-me por branquear alguma coisa na casa de banho e cozinha,
enquanto a minha mana limpava a sala de esfregona e balde, e muito convicta
aconselhava: limpamos só ao de leve que isto está uma sujidade. Ao de leve para
mim não existe. Esfalfei-me e ainda trouxe o enxugador da loiça para deixar na
lixívia de um dia para o outro e levar amanhã já desencardido. Mas às 18,30 era
a missa por alma de. Ao quarto para as seis cheguei a casa, lanchei e sentei-me
15 minutos. Dei-me mal com a igreja e passei a maior parte do tempo sentada por
causa das tonturas. No caminho para casa passei no super a comprar as faltas
para o pudim. Cheguei eram 19,50. Comecei dois jantares distintos e às 20,30 estávamos à mesa. Às 21 levantei-me
e fui pôr o escorredor da loiça na lixívia. Escurecia. Voltei e ajudei a
levantar a mesa. E fui fazer o pudim de morango que deve ficar de um dia para o
outro no frigorífico. Quando terminei, lavei a loiça que sujara, fui buscar o
portátil e subi. Antes, ainda fui ao quintal a virar o escorredor que
felizmente já estava regressando à cor natural.
E enquanto isto os homens?
Oh, por
ser fim de semana têm de descansar. Os homens fartam-se de trabalhar durante a
semana. Coitados. Portanto, levantam-se tarde, tomam o pequeno almoço
descansadamente – não têm nada para fazer, é fim de semana ufa, a semana foi
complicada - têm de ir beber café com os amigos e ficar à conversa, ir ver o
jogo de futebol que nos canais do desporto passa à hora mais conveniente que é
a todas as horas. Transigem em pôr mesas e levantar, lavar a loiça do almoço ou
do jantar se não tiverem de ir a qualquer lado que os impeça. Entretanto,
perguntam se não preciso de ajuda. Se digo sim e distribuo uma tarefa, logo a
prontidão se lhes esvai e se lembram de uma coisa para fazer; ou, não podendo
fugir, fazem mal e com má vontade o que peço.
É por estas e por outras que
aborreço os fins de semana.
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