terça-feira, 3 de maio de 2016

O Incomparável de Ti

           As mães não se comparam. Não mesmo. Nem entre si, nem a outros laços. As mães são o nosso magma, erguem-se sozinhas a arder e desbravar horizontes. E, por mais humildes, têm nos filhos um orgulho de rainhas; se falam deles, nasce-lhes um pescoço de girafa altaneira, os olhos a engolir o espaço de repente pequeno, minguado para tanto amor. E quando a vida bole com os seus meninos, acendem lumes ácidos e atravessa-as um brilho de lâmina assassina. As mães são de gostar. Gostar desmedida e carentemente. Gostar desde o fundo do coração sem fundo. As mães destilam a nossa confortável comodidade que retiram de si mesmas, qual baba de caracol onde a nossa vida desliza. São assim as mães. Atapetam o nosso chão com pedacinhos de si, deixam-se consumir em horas e dias esquecidos em que inteiras voam – ou se arrastam - para e por nós. A maior parte das mães.
As mães vivem connosco até à morte. Ficam velhas. Enrugam. Perdem cabelo e memória. Adoecem. Morrem. E são sempre elas no seu amor jovem.  As mães deixam a sua marca pessoal e de carácter  a certificar a qualidade do amor.

Mas que ninguém ouse comparar-te. Que  ninguém ouse. Porque me falta paciência para a cegueira voluntária. Que há quem a si mesmo não se conheça.

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