domingo, 20 de agosto de 2017

Distintos e Plausíveis

Polónia. Florescente país de mulheres elásticas e serpentinas. Lugar de gente metida consigo e rodeada de amena vegetação de crianças, beleza eslava e diversa da latina onde mora um jeito cigano e palrador que estrebucha, resmunga, se rebela sem pejo. Polónia é terra de homens sem graça, rosto de bebé chorão que cresceu anómalo e não condiz. Os seus campos encompridam a lembrar a doçura da paisagem Toscana imbuída de verdes-veludo e fenos arrumados em cilindro. Falta o aprumo pretoriano dos ciprestes montado no redondo das colinas. Que, pelo chão, há idêntico amarelo campesino e simétrico. Ou não fosse a Polónia um país agrícola de campos rectos, lisos, com o viço da floresta em fundo. Expostos à luz, são beleza crua, expurgada  da suavidade poética que mão divina arredonda na Toscana, para se entreter de gosto a posicionar cada cipreste em seu lugar natural.

A poder de euros, o país acordou para a febre de estradas e evolve num rodopio de obras e filas de trânsito. E enquanto o meu pobre Portugal se consome e imola pelo fogo, as florestas polacas vestem-se de penumbra e refulgem no fresco mistério de gotas a desprender. Desde a raiz, cada árvore desafia o infinito. Nos caminhos sinuosos, um aconchego de folhas a sobrepôr cria um mundo de segredos e arreda o firmamento, o solo em teia de raízes. Ciosa, a floresta encerra o passante dentro de si e recebe-o no seu interior de clorofila e humidade. Isola-o. E prevalece.  Vibra nos pequenos sons, nas gotas que caem sobre o solo, na agitação ciciada dos ramos mais altos, no restolhar de animais que passam a escapulir-se dos pés. É a eclosão exudada da natureza sem projecto. Fertilidade de silêncio. Húmus que se respira. Transpiração odorífica que entontece. Peculiar, íntima. Ali, a nudez do homem ajoelha à liturgia de força sagrada e vegetal. Cede à voz da terra. E diminui ao seu tamanho. Sem basófia.  Ele e a terra originária. Ele, no imenso templo natural. Em clausura e liberdade.

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