quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Geometria No Espaço

Sol inclemente. Deus Nosso Senhor não quer que nos falte nada e mantém-nos à temperatura alentejana, mas mergulhados em humidade.  Rodeados de sinos que, bracaramente,  tocam alvoradas pontuais e estremunham o sono de hora em hora. E nós endorminhados, baralhação do pensamento sacudido por instrumento de sopro, algures, deve haver um quartel. E não. Lemos mais tarde, na história  da Bazylika Mariacka w Krakowie que o despertar nasce ali, no rigor das trompetas marianas.  Só na Polónia as freirinhas passam naturais, sandália aberta, mochila nas costas. Ninguém as estranha e nem desenquadram apesar do hábito que lhes encerra o corpo. Só Em Cracóvia vi jovens, bonitos e bronzeados, enfiados numa batina que lhes dançava em volta do corpo de vime esguio. Terra de muito catolicismo e clima agreste. Na sombra quente dos parques, passeiam mulheres de pele branca, topázios e esmeraldas no olhar. Lindas e loiras, repelem  pobrezas e gente sofrida que também há. E os estrangeiros embasbacam nos machos polacos que ajoelham contritos a um altar, calções e mochila às costas,  mãos de orar, olhos em prece. E há mulheres em fila para o confessionário de um jesuíta. Não se sabe o que ali deixam ou recebem, mas alguma coisa será. Aguardam. Quem sabe, aliviam a contar o que as tolhe e a confissão as despe de peso. Talvez  terminem de alma nova, que o rosto lhes vem igual quando ajoelham penitências, mãos postas e lábios cumpridores. O que pensará Deus de faltas e erros que esvaem na borracha de arrependimento e oração. Que estranheza lhe franze a divina fronte se atenta nos homens e seus apetrechos de viver. Tudo são formas de aliviar a vida tornando-a, em cada vez, um recomeço. A catarse é condição de recomeço. Contudo, deuses e homens sabem que recomeçar não é possível. E não é a vida feita de pequenos impossíveis?!

Depois há a praça gigantesca e ruidosa. As arcadas e restaurantes floridos. A meio, impõe-se o edifício do mercado repleto de gente e lojas em comboio. E o calor a lembrar-nos o ar condicionado de casa, o descanso na redoma de paredes antigas. Lá fora, a hera não nos repara. Ocupada a subir paredes, ergue em passo certo de folhas, pequenas mãos de clorofila viçosa.

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