A
vida é instante a chamar-nos. Bom, chamará com mais força a uns que a outros,
que há quem seja duro de ouvido. Aprecio-lhe sobretudo as pausas. São tempos
livres, jardins abertos, talhados a golpes de coração. Que é tempo livre o que
passamos com amigos ou a preparar-lhes a chegada. Nos evangelhos há uma história
– chama-se parábola - do filho pródigo que regressa e a quem o pai recebe com
uma festança a desbundar que rói de ciúme o irmão que jamais o abandonou. Mas a
festa não carece de filho, nem que seja pródigo. Bastam uns laivos de amor, simpatia,
agradabilidade, e todo o regresso é uma alegria. Salvo, claro, se fomos
convidados a sair. Não podemos regressar onde não nos querem. Poder, podemos,
mas não faz bem à pele e amarfanha um bocadinho a alma. Garanto que, nestes
casos raros, até espreitar é invasão. Se acontece, sentimo-nos entre larápio e
tapete, o que também, diga-se, não gratifica por aí além.
Salvamo-nos
nesses amigos fiéis. Na verdade descansamos neles, estamos de chinelo enfiado;
ali o mundo não cai e nem o vento é agreste. Os amigos ajudam a construir o
quotidiano do coração. Oh! O resto do mundo pode ser urgente, inadiável,
novidade intrínseca, se tivermos gente deste calibre, sobrevivemos.
Por acaso tive um dia quotidiano.
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