terça-feira, 17 de novembro de 2015

Um Agosto em Itália

Atentamente na Bienal


A atenção humana é enigma maior que o da esfinge. Nada promete a quem o desvende e é provável que não seja de esmiuçar. Pode até parecer que exercita a desobediência  deliberada. Senão, repare-se: é incompreensível que estejamos numa aula e só nos lembremos das pernas vidradas da professora passeando devagar em estalidos finos (e não, não é motivada por concupiscência adolescente); que vamos a um concerto e, em vez da música, nos fique a argúcia cuscuvilheira que rebrilha nos olhos da vizinha do lado; que passeemos no canal e guardemos apenas o garrido das sardinheiras no cais de embarque. Enfim, a nossa atenção, não só não é exclusiva, como se detém a desejo e toma para si o que bem entende. Uma  desobediente caprichosa. Portanto.
Assim eu, na Bienal. Passaram-me os pavilhões, as obras, as pinturas e esculturas, as provocações quase todas. Lamentei o pavilhão fechado da swatch, com animação de Joana de Vasconcelos,   e que aguardava técnicos de Portugal cujos deviam fazer caminho a pé, dada a incógnita sobre reabertura.

Pela escultura descomunal da entrada exterior, o pavilhão mais chamativo era o inglês. Mas, é claro que a minha atenção se concentrou na cor – amarelo-ovo –, pareceu-me uma aranha em ponto grande, ou, com muito boa vontade – achei que tinha poucas pernas –, um polvo gigante. Fosse o que fosse, achei lindo. E resolvi dar uma vista de olhos no interior. De que gostei menos. Proliferava uma abundância de sexos masculinos e femininos, quase todos fumadores. Não achei grande graça, mas talvez tenha entendido a risota dos nossos rapazes no campismo (eles bem balbuciavam um cigarro em qualquer lugar...). Edificante e pedagógico. Portanto. Atardei-me um pouco à saída, observando a escultura. Era o máximo, exibia um agradável arqueado de pernas e havia na extremidade central qualquer coisa de flor a desabrochar, uma irrupção que me convencia. Mas ainda tanto por ver! Desci a escada e consultei o mapa a decidir caminho. Eis senão quando o Luís me encontra – de cada vez que acontecia, trocávamos informação contando uns aos outros o que mais nos agradara e aconselhávamo-nos – e logo me apressei a recomendar o pavilhão inglês desvendando que a escultura da entrada estava um primor. E ele numa espécie de solilóquio, sim, já lá estive, também gostei daquele pénis, a cor é muito adequada. Bom.  Voltei atrás, a reapreciá-lo; vê-lo pela primeira vez na sua qualidade; merecia. Mas é que não consegui, o primeiro olhar é que manda em nós, é o original.  A escultura surgia-me bem mais bonita e estilizada. Porém, aquela força de flor a desabrochar...coaduna. Parabéns ao escultor. Já lhe dava as costas quando ouvi – e vi - um garotinho de calções, mão dada a uma jovem muito italiana, dedo esticado para o amarelo-ovo, guarda mamma, un gricino tanto grande!; confesso, senti-me mais acompanhada. 

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