sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Efeitos Aghata Christie

No momento em que – oxalá – a esquerda portuguesa se faz à terra com o arado e a direita roga pragas à rabiça, pois neste precioso “momento interessante da política”, ainda com a aura de alguma esperança, apetece-me outra coisa. Por me apetecer.
Neste rumo de inconfidências, reconheço que banhar-me num episódio de Poirot antes do telejornal, desencarde (dois em um: solta-me as cardas ao mesmo tempo que lava).  Existem mil maneiras de nos contarmos. Por que não com os romances policiais? Os de Agatha Christie agarraram-me aos vinte anos e não descolam. À época, a dama inglesa conseguiu mesmo uma vitória sobre a praia. Em férias  – cinco brevíssimos dias -, após ler um dos seus livros, decidi levar de empreitada toda a colecção da dona da casa. Dias e noites a ler em maratona. Adormecia com uma senhora dor de cabeça ansiando a manhã em que, fresquíssima, me atirava à página assinalada de véspera, em anelante pressa de amante insaciada. Quando, com grande pena, terminou o breve período de lazer, ainda os meus propósitos estavam longe da metade, a pele amarelava como antes, e a praia, meu supremo enleio, era-me estranha (tentei juntar as duas modalidades mas desisti; portanto, 1-0, perdeu a praia). Perguntava-me como é que até à segunda década de vida vivi alheada do entusiasmo presente no romance policial, coisa tão idêntica ao ar que se respira. Mas a verdade é que desconhecia a sua existência. O mais parecido que tinha lido eram os livros dos cinco. Mas os amores levam-se até ao fim, esgotam-se sem se esgotar. Ágatha Christie foi a causa primeira da mania que me nasceu de coleccionar livros por autor. Durante anos, perseverei em coleccionar-lhe títulos, andava com a lista na carteira e tinha supremo prazer na compra, antevendo horas inefáveis. Durante uns anos, esta fixação facilitou as poucas prendas que recebi. Os títulos que ora me faltam, são os que li nas férias da nossa apresentação amorosa que logo me incendiou em paixão a perder de vista. Confesso que me desilude comprar livros que já li; portanto, é possível que a prateleira da estante mantenha essas faltas ad eternum. Entretanto, comprei livros policiais de outros autores. Mas nenhum destronou a dama inglesa. Aghata Christie é a minha queen.

Quando (me) surgiram os filmes baseados nas obras, não desiludi. Até hoje, perguntei-me que sorte de ingredientes detêm livros e filmes para despertarem  tal empatia. E só agora, nesta hora precisa – também não penso assim tanto no assunto –, descobri o que sempre esteve em frente dos meus olhos: estes livros e filmes são muito particulares. E, hélas!, chama-me neles (aos gritos) o exacto mesmo que me chamava nos livros dos cinco. Não têm nada em comum?! Ora essa, mas é que têm mesmo. Vejamos.

Sem comentários:

Enviar um comentário