sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Efeitos Aghata Christie

O que mais me conquistava nos livros de Enid Blyton nem era o enredo, a aventura. Era a sensação de segurança e bem estar que se desprendia do seu todo. Uma segurança feita à medida do mundo em que viviam aqueles garotos, antípoda  do meu. Não só os pais eram óptimos, toda a  sua realidade o era. Se passavam numa quinta, ali havia mesa posta com um lanche, sumos, gelados, bolos, scones, etc; os seus rituais quotidianos, alimentares, de sono, de passeio e diversão, galvanizavam qualquer, eram ideais. Repare-se que, no subterrâneo mais negro, havia sempre uma lanterna; se estavam presos em algum lugar, encontravam paus de chocolate no bolso, bocados de cordel que eram suficientes para subir desde o fundo de um poço...como eu invejava aqueles bolsos. Enid Blyton foi o Aristóteles da aventura infantil, fez descer o maravilhoso do mundo dos duendes e fadas para a terra dos homens e seus apetites. Depois, os bons ganham sempre e os maus sofrem castigo; e, por norma, são feios, o mau carácter devidamente identificado.

Agatha Christie criou a sua versão dos cinco, mas para adultos. Menos linear. Bem posso desculpar-me afirmando que Poirot é uma série inglesa, fiel à época e aos detalhes, motivos da minha preferência; Midsummer murders também é, e não faz igual mossa. Sou obrigada a reconhecer o meu lado de piroseira: gosto daquele mundo meio feudal, talhado a damas e lordes irrepreensíveis, moradias (solares e castelos, há muito castelo habitado por aquelas bandas) a que não se apõe uma nota de rodapé, jardins a estourar beleza. Mundo de pessoas bonitas e inteligentes, distintas na maioria dos casos, servidas por meios de transporte expensive e empregados obedientes que não destoam da condição e se apagam na trama. É básico, a história recai sempre sobre quem está bem de vida. Como em Enid, há um mundo bonito e de alto nível, onde os acontecimentos se desenrolam; e os maus são castigados. Eis o maravilhoso de Ágatha Christie. A ler, ou a ver e ouvir, eles rodopiam em meu redor; contudo, permaneço invisível. Oh! Claro. Há o mistério que a escritora tão bem soube construir, mantendo-nos intrigados até final. E a figura bem cinzelada de Poirot. Ou Miss Marple. Ou a vivaça Tuppence e seu par. E há as mortes. Que importam tanto como os subterrâneos em que os cinco ficam prisioneiros: são acidentes de percurso, sem dano para o espectador ou leitor. As pessoas vão sendo assassinadas, mas todos tocam a sua vida; como nos cinco, a aventura tem de continuar, nada de paragens piegas no enredo. Acontece como nos contos, saltamos levemente sobre.
E quem não gosta de uma aventura que se torna enigma e onde o que é bom aparece requintado e o pior tem tal leveza que não é ele?! Que atire a primeira pedra. Mas só daqui a poucochinho que vou abrigar-me primeiro. Ou será antes preparar-me para ver novo episódio...

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