quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Um Agosto em Itália

Piazza di San Marco, Venecia


            Apesar do corropio de turistas a demandá-la em primeira escolha, conheci-a já a semana em Veneza ia a meio. Conhecer não é o termo certo, ainda a desconheço. Conhecer uma praça numa cidade é mais que saber-lhe o nome e ser-lhe apresentada. Ultrapassa a possibilidade de sentir-lhe as variações ao longo do dia (como nos sucedeu). Está para além do sortilégio de o primeiro olhar acontecer ao rés da noite, sem multidão (assim se teceu o nosso prazer). Para conhecê-la, teria de pisar-lhe a esquadria vezes sem conta e saber nela as quatro estações; sentar-me no esplendor das suas esplanadas; entrar em algumas das inúmeras lojas que a muram; encostar em quase todas as colunas das suas arcadas magníficas; amiudar o hábito ao tempo  daquele relógio romano com signos do zodíaco; pedir alento ao juvenil galope de cavalos estrangeiros e naturais de Alexandria que ali brilham tão a gosto; meditar na Catedral; fazer visita ao Palácio dos Doges; jogar a macaca no tabuleiro da praça a afastar pombos, xô, xô, xô... E desvanecer uma vez e outra, e outra ainda, frente ao Leão de S. Marcos e à displicência destemida do arcanjo Miguel, um pé distraído a calcar o dragão enquanto, logo ali, a simetria  bailarina das gondolas ensonadas, azula no fim de tarde.  Porém, mesmo sem a saber, me rendi ao primeiro encontro, tão desprotegida como qualquer mortal.

É que a beleza do canal invade-nos. Desmede e estarrece sem direcção.  Oh, que sempre os poderosos souberam – puderam -  escolher os lugares de morar! Regresso às gôndolas e seu doce chapinhar. Escuto melhor, não soa apenas a música da água a alisar a madeira. Sobre ela, perpassa um cristal de piano. E é certo, a leveza dos barcos ondula ao som de Beethoven; juro, ouvi a Melodia para Elisa a embalar as garotas.

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