domingo, 31 de janeiro de 2016

Cartas, Cartões e o Mais que me lembre

E de repente chegaste. Disfarçada de presente. E foi Natal outra vez. Os dias recuaram ao presépio, os pastores voltaram sobre os passos e quedaram emudecidos à manjedoira salvadora, os reis magos ainda em casa à espera do sinal celeste. A não importância da estrela a empalidecer no alto da gruta.
Era a vez absorta do teu poder largo, passeante de veraneio nos caminhos de terra do meu presépio feliz.  Doce e inesperada surpresa de Natal atrasado, mas tão a tempo. E abri com mãos primeiras a tua carta de papel florentino buscado em Veneza loja a loja. Onde, escreves tu, a cercadura é bastante e a mão peca na adição de sinais. Mas que encheste de  amizade pura. Que agradeço. E assim a sei de tanto ano em que nos abraçámos sem abraço haver, misturando agudos de sonho em realidades obtusas, receitas, conselhos caseiros, opiniões de tudo e nada em que concordamos. És única a dar-me um nome pequeno que enches de naturais matizes como só tu sabes.
Então, fiz da tua escrita marco de leitura. E assim vagueias os meus livros página a página, de história em história. Escondida em envelope aberto  e endereçado ao que em mim és tu. Às vezes, nas noites em que as estrelas mais sérias, repito-te. Revejo a tremura leve da caneta hesitando em pernas de letras, a prosa corredia, científica e terna.  

E o resto, se é isto possível, acrescenta o que és: minha amiga dilecta. 

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