E
depois desdobra o inevitável, eu não quero conversas, mas é que a minha nora não puxa
por ela. Nas férias, deixa-a à vontade e a menina esquece quase tudo, mas eu não
digo nada que a senhora sabe como é, noras com sogras (e enfatiza a dualidade, expressiva de rosto e mãos) e não quero cá más
impressões para o meu lado; mas pronto, é verdade, e a verdade tem que se dizer, não é. E os
olhos lá atrás que sim, que sim, mas a ventania capilar à força toda e eles
cansados da função, que grande chatice. E já ela a arremeter noutro ângulo, a professora é boa professora e sabe ensinar,
mas não é nada meiga e isso também traumatiza a menina, o que ela tem é um
trauma, ai valha-me Deus. E num suspiro fundo, a limpar uma lágrima que não
havia, e depois é assim, a gente tem netos e custa-lhe estas coisas. Se a
senhora os tivesse é que sabia dar valor. Isto é uns cuidados com eles que nem
imagina. São tudo p'á gente, mais que filhos (e força aqui também) – e os olhos a aproveitar uma aberta,
pois, pois, isso mesmo. Depois, avança e resolve o jogo com remate indefensável, olhe, é uma loucura (ponto final parágrafo).
E
eu à porta, sem jeito de coisa nenhuma. Num intervalo, arrisco uns conselhos a vulso,
que os traumas não se ganham assim, que não se preocupe tanto, basta que
ensinem de novo a garota a ver horas e que isso eu posso fazer hoje mesmo (e marco com ela, pensando
que um relógio digital resolvia melhor o
problema, mas sem atirar essa verdade ao fogo). Não lhe agradou completamente.
O trauma vinha-lhe a calhar ao vocabulário (descreio que saiba o que é). Põe um
ar de dúvida saliente que aumenta quando escuta que as férias são para
descansar da escola e que “as coisas da escola” são suficientes nos períodos
escolares, que a nora acerta em não se preocupar em férias. Para arredondar, acrescento que, em dez anos
de ensino básico, não era habitual pedir
trabalhos de casa em férias. Aventei ainda que o agrupamento tem uma psicóloga
escolar; se for o caso, ela pode ajudar a resolver. Partiu reticente de mim, os olhos lá ao fundo, por entre os estores de cabelo, não prestas, tu.
Há
pouquinho toca a campainha. É a vizinha já com os olhos todos à vista, nem um
ventinho leve no fim de tarde, e o cabelo no lugar. Evito paranóias e olho por
detrás dela os sapatinhos da madeira que apodrecem no aguaceiro. E ela como que
a descartar um frete, olhe, vizinha, já não é preciso, ela hoje tem natação.
Ainda bem que há vizinhos. Olha se não houvera!...
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