sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O Pó das Estrelas

Nesta vida de que já gastei a maior parte, há imensas coisas – e pessoas - que vou perdendo. Por razões umas mais miúdas que outras, sem razão, por desinteresse, porque não estou para isso, porque me escapam a contragosto. Os anos mudam-nos as crenças e hoje acredito que nada ou quase nada se escolhe, que as escolhas são as nossas ilusões no poder da vontade, artifícios luminosos a emprestar tonalidades que miramos de gosto, talvez por vaidade retinta. No entanto, continua a ser verdade que ir por um caminho é preterir, no momento em que se vai, todos os outros. O que encerra um dramatismo alucinante. Por outro lado, não aprecio o determinismo de um demiurgo que nos destina desde o nascimento, cujo não me faz sentido até pela pouca importância que me parece ter cada homem. Só um ser muito fixado nos humanos – e muito picuinhas - se daria ao trabalho de programar a condição humana vida-a-vida, inculcando-lhe, por acréscimo, a ideia de liberdade e a convicção de que pode, em certa medida, fazer-se livre (nem me atrevo a comentá-las, mas dão mais moíção que resultados).
 Voltando ao primeiro assunto e à constância irremediável das perdas tal como as sei, verifico por exemplo que a pintura distrai o espírito e me satisfaz qualquer passeio solitário em museu onde espiolho com espírito mineiro, coisa que eu mesma não acreditaria há quarenta anos. Contudo, isento-me de lamentar obras que não vi, lugares onde não pus o pé ou livros que não li. O meu princípio é o de muita gente – da maioria dos portugueses, quase aposto -, vejo e leio o que me é possível (sem exageros) e disso retiro o prazer de que sou capaz. Porém, o que mais me apraz é assistir a uma boa conferência. É aqui que entra a minha mágoa verdadeira. As pinceladas e a cor que me faltaram, os lugares que perdi ou as centenas de páginas que deixei virgens, não me agastam,  mas não poder assistir a  uma mente que discorre em directo, é um irreparável.  Não me refiro, é evidente, aos ilustres que papagueiam teses – ou bocados delas – em lugares diversos, ainda que sejam de reconhecido mérito. Falo de outro patamar, de quem sabe tornar fáceis temas difíceis ou consegue ensinar-nos algo de novo, fazendo simples o que lhes gasta suor e anos de vida. Pessoas que fosforecem. Portanto.

            Acontece esta arenga a propósito de ter lido uma reportagem – ou será entrevista – com Gerry Gilmore, ao que parece um reconhecido cientista e filósofo inglês (ensina Filosofia Experimental em Cambridge) que visitou Portugal para uma palestra na Fundação Champalimaud. E às primeiras linhas me fiz espontânea fã. Eu que nem sequer sabia de uma Conferência sobre o Futuro. Ou da existência de Gilmore (ainda que detentora desse conhecimento, tal conferência não era para o meu bico). Bom. Pormenores. 

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