O
que gosto eu em Gilmore? Ora, o mesmo que toda a gente, ele concorda com o
senso do homem comum. Por exemplo, diz que o nosso universo vai terminar
sozinhito da silva porque a sua aceleração é cada vez maior o que o leva a
repelir as partes mais distantes que se afastam de nós a uma velocidade
superior à da luz (não é brinquedo, então para esta velocidade já não há sinais
de trânsito nem multas...ora bem). Segundo o cientista, as estrelas estão a afastar-se
e serão cada vez menos e os átomos vão-se quebrando (mas afinal aquilo é feito
de quê para se quebrar assim sem mais,
mau, Maria! Tão pequeninos, tão pequeninos, e partem-se na mesma). E um dia não
resta nada. A verdade é que foram as estrelas a gerar as nossa condições de
vida, não é bonito isto ser verdade?! Pois
é, mas o seu afastamento é proporcional ao decréscimo vital. Ou seja, não vai
restar ninguém para pensar tamanha solidão (duvido que nessa altura ainda seja
um universo, deve ser só um buraco negro), portanto, que ela exista também não
fará diferença (Kant, Kant). E portanto.
Cá chegamos nós ao essencial do homem comum: a humildade que só fica bem numa
espécie condenada e que tem a consciência disso (grande novidade, tudo que tem
vida, há-de desaparecer, gasta-se, perece, morre). E isto pode ser uma novidade
científica, mas é também uma certeza do homem comum. Seguramente.
A
segunda verdade de Gilmore não é menos retumbante nas mentes comezinhas. Afirma
o filósofo que o nosso universo ganhou a lotaria. Quer dizer, reúne condições
excepcionais que permitem a vida (segundo parece bastaria que 12 propriedades
do mesmo mudassem em 2% e baqueava a hipótese dos seres vivos o habitarem).
Pronto, é verdade que desconheço a dúzia de propriedades e o alcance de uma
variação de 2%, mas que esta lotaria pode chamar-se Deus, acaso divino e outras
transcendências do mesmo teor, pode. Sem infracção a qualquer regra. A ciência não consegue explicar o nosso
universo, sabe é que para este ter sucesso (sucesso significa presença de
condições que possibilitem a vida) muitos outros não o tiveram. E que vivemos
no único onde podemos viver porque encaixamos nas suas condições (grande
descoberta, parece-me que cada vez mais precisamos de um motor imóvel, uma
consciência suprassensível, qualquer coisa assim; além disso Leibniz já afirmava
que este é o melhor dos mundos) Ou seja, o que não faltam por aí são universos
a rodar a uma velocidade louca pelo espaço. Ah! Mas não têm vida. São universos
que deram mal. Aguentem-se (digo eu).
Outra
verdade que os poetas intuíram e a ciência confirmou: somos mesmo feitos de pó
de estrela. Viva!...Tinha a certeza que era uma poeira, a ciência só veio
creditar-me.
E,
finalmente, diz Gilmore, a filosofia faz
o seu papel especulativo sobre universos e questões para que a ciência ainda
não tem resposta (esta é clássica, também a ensinei).
Portanto,
aguardam-se resultados do projecto Gaia, onde Gilmore se aplica, e que pretende
conhecer a origem da via láctea e a dupla questão gravidade-peso que sempre
pensei que era só eu que não entendia, mas parece ser o quebra cabeças dos
cientistas. Ora esta!...
Bom.
O projecto Gaia pode por exemplo verificar se vem um meteorito catastrófico em
direcção à terra. Não sei se aguentamos mais isto. Então nascemos fadados à
morte, temos de viver com isso, e ainda, quem sabe, anda para aí um bólide do
tamanho do mundo a querer dar-nos cabo do canastro?! Com franqueza!...
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