Todos
os anos a gente passa revista ao que fez – com vista grossa, para não haver
choro e ranger de dentes. É de hábito e tradição. Olho para trás e o meu ano
foi tão insalubre que confrange. Não bem insalubre. O termo é lúgubre.
Espaireci pouco e mal – excepto quando andei por Itália. Foi um ano
claustrofóbico, abri pouquíssimas frestas e não acrescentei pessoas novas ao
meu mundo, nem uma única. Houve muita coisa em exposição nos museus que desejei
ver e não vi, as datas a caducarem umas atrás das outras; passaram concertos
para que não tive carteira, teatros a que ambicionava assistir e não foi
possível. Neste ano, visitei menos os amigos, e no entanto aprendi algumas
coisas novas sobre a nossa relação.
O
ano de 2015 foi meio difícil. Gastou-se em negativos e exercícios na câmara
escura. Tudo de pernas para o ar, as cores invertidas. E largos períodos de
solidão. É certo que sou uma pessoa solitária e aprecio estar sozinha. Mas não
foi o que aconteceu. Quando a nossa vida desaba – e às vezes acontece que a
gente a faz desabar – percebemos que não calhamos bem, está toda a gente muito ocupada – e engrenada
- no mundo a que pertence, cujo também dá muito trabalho e doença e
preocupações. Talvez por educação, ou
porque sou assim mesmo, passei a vida a não querer incomodar, a sacudir pés nos
tapetes, a pisar de leve para não acordar ninguém, a não bater com as portas.
Não sei ser diferente, as fúrias não me fazem feliz, tendo naturalmente à
concórdia. Mas, se calhar, as pessoas como eu não têm lugar. Se calhar, não existem.
Quem sabe sou um conceito, uma ideia sem sustentação que não tem onde cair
morta...
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