sábado, 28 de março de 2015

Inscrição

A  luz do dia é mais clara se dormimos. O sono comanda-nos os dias e só há mesmo manhã, se acordamos. Nenhuma claridade nasce da insónia.
Um destes dias bateu-me a saudade e fui ver o meu pai. E nessa tarde de um dia destes, pela primeira vez, notei-lhe a velhice. Ou ela se me quis mostrar. Entrou-me pelos olhos dentro o peso dos anos esparramado pelo corpo num à vontade abusivo. Será do meu olhar, mas está diferente o meu pai. Tinha um ar afilado que lhe fugiu, abolachou. Como se já não necessite viajar e a pose de quilha lhe seja inútil. 
Estava sentada a seu lado a ouvir-lhe as histórias e a pensar  na viagem que encurta, a última estação já a distinguir-se. A pensar que, sem esta raiz, nos teremos de reinventar. E que todos os momentos com ele – enquanto ainda é dono de si - se tornam a cada dia mais preciosos.
Mas a verdade é que a morte não liga muito a cronologias.

Como a vida é efémera!

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