Fui ao Norte com amigos. Éramos cinco. E
surgiu-nos um tempo de encomenda. Eu a pensar em frio e uma primavera estival
(Aristóteles, Aristóteles, não é só nevar no verão, olha lá) a assolapar-nos as
ideias, os poros a resmungar suor por todos os lados, os meus braços aflitos de
roupa, num cruzar de amuo, então?! E eu sem ideias novas (nem uma blusinha), a
pensar que despir-me era apetite impossível e a puxar de um chapeuzinho azul
todo dobradinho no fundo da mochila, comprado há mil anos na Marks and Spencer
e toda a gente a olhar não sei porquê, que é arcaico mas me assenta lindamente (sou
de enfiar barretes).
Não foi uma viagem de boas conversas, mas de
boa comida. Para o estômago. Para os olhos. Sobretudo os meus olhos agradecem o
colírio extorquido à carteira já de si minguada. Mas tenho que dar uso à vista. Treinar-me na beleza das coisas.
Ou soçobro. Caio redonda em qualquer inferno dos muitos que nos rodeiam. Não
que tenha ainda muito por fazer. Mas porque preciso. E a primeiras necessidades
há que acudir como a um fogo. E pronto.
Muito antes do chapéu da Marks and Spencer
tinha estado nos Arcos. À boleia de uma amiga e dos pais. Sou-lhes grata por
essas férias que me foram primeiras. Tinha quase vinte e um anos, já
trabalhava e estava sem dinheiro. Ainda assim, a família da minha amiga
aceitou carregar o contrapeso. Embora fosse bastante diferente da
minha, quanto prazer me vinha de observar a mãe dela! Admirava-lhe os cuidados com a filha
(única), o pequeno almoço na cama e que eu nem sabia que existia, o enxoval que
também desconhecia, os cuidados à mesa como se ela uma criança (só os pais vêem e gostam do lado de nós que não cresce).
Parecia-me então que a mãe era uma espécie de sombra para todo o exagero de
calor. Que eu perdera. Nós (eu e os manos) tínhamos, por acasos do destino, ficado expostos
ao sol, qualquer que ele fosse. Não sei se já me habituei a esta ideia.
Passados uns dois anos, trabalhava há três, fui
com a mesma amiga passar férias a Giela e voltei aos Arcos. As duas. Por conta e
risco próprios. Foram muito engraçadas essas férias de tomar banho e
lavar a roupa no rio, a experimentar um lugar tão retardado que o meu sítio alentejano devinha poço
de civilização.
E agora, de novo, os Arcos e sua gastronomia de
excepção. E o tempo parado em Ponte da Barca. Tão bonita e igual de casas e
ruas, o sol a entrar-lhe pelas esquinas travadas de panos roxos, sinais das estações da Paixão de um Deus que aceitou morrer por nós. E o vinculativo progresso de Ponte de Lima. Onde
o CDS pontua esmero e arranjo e as refeições são caras e fulgurantes.
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