segunda-feira, 6 de abril de 2015

Dos Arcos a Ponte de Lima

E visitámos os rios falsamente parados e as praias fluviais onde apeteciam  demoras de piquenique, eu a inventar cestas românticas debaixo de árvores frescas e cadeiras de lona que quadram mal com o bucolismo da cena, mas são mais confortáveis que as pedras e suficientemente leves para carregarmos com elas. E, no ardor do momento, até me julguei capaz de mergulhar naquelas águas frias num pino de verão, coisa que agora, em meu juízo, descreio perfeitamente. E vi cobras pequenas e lagartos de vária índole, olhar desconfiado e fuga pronta, que não me deixaram assim tão descansada como isso, que temo tudo que se arraste.
E agora que já estou pacata (como se não fosse) e em casa, não me sai da cabeça o aviso camarário que ouvi ao micro em Ponte de Lima e que pedia aos turistas que não dessem esmola a ninguém que a solicitasse. Como sou estúpida! Não é que quando ouvi aquilo  até concordei?! Não era, de imediato, dar-me alguém uma chapada bem assente? Agora que penso nisso – não deixo de ouvir aquela voz nefasta -,  parece-me tão mas tão mal ter ouvido sem fazer chinfrim…Mas então, meus senhores CDS, a forma de acabar com a mendicidade é proibi-la de aparecer nas zonas mais in? Hummm….terão copiado a ideia da Suécia? Com tanto exemplo bom vão logo copiar um que não presta. A questão é que, a uns e outros, não lhes faz mossa que haja pobres, têm é que não os ver. Só faltava mesmo isto: pedir à miséria que seja invisível. E como é que eu não me insurgi logo? Estou perdendo qualidades, caramba. Características. E não posso que já sou bem incaracterística. Cambada de gente que não presta! Como se existir seja aparecer e só exista o que aparece. Sou contra as aparências de democracia. Sou contra esta mascarada toda de cidade limpa e bonita, que decerto proíbe os pedintes.
Achei Ponte de Lima um lugar lindo. Mas aquela voz persegue a visão que me ficou. E desfigura.

Toda a beleza tem um preço?! Não é bem assim. Belezas de só por fora não interessam nem ao Menino Jesus.

PS: Meu Menino Jesus, desculpa.

Sem comentários:

Enviar um comentário