Quando
a mana mergulhou na parte sombria por detrás da tenda, deixámos de vê-la e o
nosso coração minguou até ao tamanho de uma noz (o meu, seguramente). E logo
ela reapareceu sorridente, um rapaz pela mão. Vestia um pólo amarelo e, à luz da
fogueira, não o reconhecemos. A minha irmã sentando-se a meu lado muito
composta a apontá-lo, ele estava ali atrás da tenda. O intruso de pé, a
olhar-nos, Boa noite a todos, andava por aqui a passear e lembrei-me de vos
visitar. A minha amiga de mau humor, ah… e para o lado, toda secura, bela hora.
E a minha irmã a pôr água na fervura e desfazendo o enigma, eu conheci-lhe a
blusa amarela é a mesma que tinha esta tarde na praia. Eu ainda estupefacta
daquele homem ali, deviam ser mais de vinte e duas horas, vivia em Palmela
(tinha-nos dito à tarde) o que é que ele podia procurar entre os pinheiros da
Caldeira. No entanto, limitei-me à apresentação, é um colega que fez exame na mesma sala que eu e encontrámos
hoje na praia.
Depois,
ele sentou-se sem pedir licença mas as suas conversas eram recebidas com frases
curtas ou monossílabos a contrastar com o calor do fogo, e breve nos deixou. Quando ele sumiu no escuro, a minha amiga para mim, olha lá, mas tu conheces o homem daonde, tens a certeza que
ele fez mesmo exame, que entrou na sala e isso… é que o homem parece que é
maluco. Tu já viste bem, aparecer aqui às dez da noite (e prolongava-se nas
reticências) De certeza veio atrás de vocês quando saíram da praia, o parvo –
inquisitiva, para a minha irmã -, tu não deste por isso? À tua irmã nem
pergunto que ela nunca vê nada. E garantia severa, o homem é maluco, tão não viram que
é parvo, esteve aqui só um bocadinho e já nos convidou às duas para irmos a
casa dele a Palmela (parava um bocadinho para pensar e continuava) Ainda por
cima disse que os pais não estavam lá, o estúpido - visando-me directamente
-. E tu, feita parva (e imitava-me), "a gente não
costuma ir a essas festas" e a dizeres onde vamos. Tu queres que o homem nos
apareça em todo o lado, queres? Não tás mesmo a ver que ele anda atrás de ti, o
paspalhão. E olha que não é com boas intenções. Uma pessoa bem intencionada não
aparece às dez da noite como se fosse um ladrão. – e voltava a apostrofar determinada, o
estúpido. E regressando-lhe a memória do convite que a ofendia, para que nos
quer aquele emplastro lá em casa quando
os pais lá não estão. Parvalhão. E o que é que ele estava a fazer atrás da
tenda…Depois, ponderando prós e contras, olhem vocês não se esqueçam é de
trancar a tenda por dentro. E se ele aparecer gritam com força que é para
acordar toda a gente.
A
minha amiga tocou a rebate e “o amarelinho”, nome que generalizámos a partir da
minha irmã, não voltou a aparecer. E sim, aquele rapaz não as batia todas. Sim,
parece que queria alguma coisa comigo – na altura do campismo pareceu-me exagero e malevolência da garota
sobre as boas intenções de quem só estava a ser simpático e deixar-nos à
vontade contando que os pais não estavam –. Ocorreu-me tal hipótese, passados
meses, depois de me surgir no local de trabalho a contar-me que escrevia letras para canções. Achei imensamente parva a confidência. Andava com a
universidade a tiracolo, morta de sono e cansaço, e disse-lhe que tinha pouco
tempo para o ouvir - era verdade, gastava o tempo a apanhar comboios e barcos - e
não me interessava nem um pouco por letras de canções (por acaso hoje, algumas,
até me interessam). Aconselhei-o a encontrar uma profissão e colocar as letras
de canções num lado mais alternativo, porque, confidenciei, não me parecia que
alguém pudesse viver disso.
E
depois, só voltei a vê-lo de longe, fingindo sempre que não o estava vendo. O
que até era fácil porque como sou míope ainda hoje não sei se o viJ) até porque, à época, desconhecia a miopia que me
habitava; logo, via mesmo muito mal ao longe ah, ah, ah….
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