Olívia
Esta semana são as festas de Natal. Provavelmente também tens as tuas.
Na catequese. A representar presépios. Escrevo-te sobre isto porque hoje assisti
a uma. Tão linda! Que tem o dom magnífico de ser a única. Tal como o meu jantar
de Natal será um e grandemente feito por mim.
Pois, fui ver o natal de um Jardim de Infância. Como eu gostei de ver
aqueles miúdos, alguns tão pequeninos, um deles, literalmente de palmo e meio. E tão ou mais bonitos que eles, os pais
e os avós. Na minha frente, uma avó babada, a acenar à neta sem
descanso, aflita de que a garota a não visse – e não a viu porque, como bem sabes,
do palco iluminado para o meio da plateia escura, nada se distingue. Porém,
quando chegou o momento da neta cantar a “Estrelinha cintilante” – uma cantora
perfeita - , os garotos cheios de brilhos por detrás a fazer coro, a avó levantou-se
apressada e foi sentar-se - não sei como, os lugares até me pareciam todos
ocupados - na primeira fila. A fazer com a neta todos os gestos. Do outro lado,
a educadora, mais moderada, ia lembrando cada parte. Mas, cá de trás, era impossível desgrudar das
costas entusiastas e dançarinas da avó, braços no ar a lançar deixas que
perturbavam a visão de quem estava logo por detrás. Nem sei do que mais gostei naquela canção. Temo que da avó.
Se tu visses…O Jardim está a desenvolver um projecto para conhecimento
da história local. E lá veio uma canção com o rei D. Carlos e a Rainha D.
Amélia. A rainha, fantástica no seu orgulho de um colar de quatro voltas ao
pescoço e coroa na cabeça, junto ao pretenso iate com o seu nome. E D. Carlos
pintando o seu quadro, uns extensos bigodes que teimavam em cair-lhe e que ele segurava de
vez em quando, já farto de tanta escorregadela, com o pincel – o elástico que
corria atrás da cabeça devia estar largo.
Como tudo que é natural pode ser comovente.
E houve quem viesse confidenciar-me depois, “a educadora é muito boa no que
faz, é genético”. Caiu-me tão bem. Não devíamos precisar, mas ouvir dizer bem
de nós faz-nos falta. E falta muito nas pessoas a capacidade de reconhecimento
do outro.
PS: andas benzinho? Não adoeças, tem cuidado contigo que este gelo que
se agarrou ao astro traz muito perigo.
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