Vamos por partes, ou
não nos entendemos. Assumo, o excesso de TPCs não resulta. Mas fazem falta.
Contrario, logo no arranque, a teoria de que são os mais novos quem faz mais
TPCs. Os mais novos fazem-nos mais lentamente, isso sim. Então, senhores
entendidos, e as explicações, o que são e para que servem? E quantas horas
gastam nelas os alunos, pelo menos depois do décimo ano (e tantos, tantos, bem
antes). Ora, digo eu, os mais novos têm mais necessidade deles. Porque, meus
amigos, o Estudo Autónomo em casa é um TPC sem ordem de sê-lo, por auto
recriação. E escrever ou ler aprende-se escrevendo e lendo, não há outra
maneira (será por isso que se fazem cópias, ditados, palavras difíceis e se
estuda a lição em casa). Certo, a criança pode, por si, de sua
responsabilidade, fazê-lo. Mas, meus ilustres leitores inexistentes, não somos
todos iguais. E aqueles a quem falta a vontade de ser responsável? Aqueles a
quem é a obrigação que ensina a escrever e a ler? Acham porventura que mais
tarde não vão agradecer o esforço? Vão. Vá, recordem lá a alegoria. A da
caverna. O caminho para a luz não é um jogo. Não se faz a saltitar. Faz-se
contrariando inércias acomodatícias. Mas vale a pena.
Bom. De caminho, desmistifiquemos a teoria constante
na tese da investigadora do Porto (não lhe recordo o nome) de que não se
aprende com os TPC e em forma lúdica sai tudo muito melhor. Mas quem é que
disse a esta gente, quem foi o cérebro iluminado, quem lhes incrustou na
cabecinha que aprender é fácil, que viver é uma alegre jogatana, que tudo se
faz via jogos didácticos?! Mas que aberração. A cultura sai-nos do pêlo e a
leitura e a escrita não são excepções. E, dê lá por onde der, em alguns momentos
custa, é difícil, a mente parece recusar-se a compreender, o corpo quer
retornar ao agradável que não sublima. Mais: toda a aquisição leva tempo a ser
nossa, o mundo resiste-nos; por vezes, precisa de tentativa e erro até ser memorizada e o entendimento processar as novidades (ah, pois é, os processos necessitam memorização e traquejo prático). Os equilíbrios
cognitivos, malvada sorte, são morosos. Portanto, não é fácil aprender a copiar
e papaguear, quanto mais a complexidade que vem depois.
Verdade, existem métodos que permitem ensinar e
aprender de forma lúdica. Mas que raio! A vida não é um jogo. E se a atitude de
jogador empenhado às vezes nos assenta, não assenta sempre. Nenhum método é bom
em si mesmo. São os professores que, de adaptação em adaptação, constroem o que
serve a cada turma e, por vezes, a cada aluno. Que ensinar e aprender podem não
existir conjugados, muito se ensina sem que haja aprendizagem e o inverso. Mas
é processo que alicia e está sempre a
começar. Há um inequívoco começo em cada vez. Dir-me-ão, estás a desviar-te. Pois
estou, mas os métodos pedagógicos existem para serem conhecidos e aplicados se
for o caso. Fazem uso de técnicas que nos servirão em alguns alunos – ou em
todos, como é o caso do agrupamento de escolas referido – mas, na sua pureza,
são, quase sempre, demasiado exigentes para poderem ser postos em prática, ipsis
verbis, pelo universo dos professores. Quem distribui o jogo
(investigadora, olhe para isto) tem o direito de o fazer como supõe que resulte
melhor e sente ser mais fácil e eficaz para si e para os alunos, considerando o
meio em que ocorre. Conhecer métodos e escolas é enriquecimento, achega,
utilidade que a formação de professores devia privilegiar. Ficar preso a um
único pode constranger.
Postos os princípios gerais, voltemos ao específico.
Retomemos a ideia de que os TPCS são em demasia nos mais novos. Criam hábitos
de trabalho, sim. Habituam a cumprir mesmo o que não se prefere. E treinam a
mão pouco habituada ao desenho de letras e números e de novos idiomas. Defendo
que, mesmo que os professores os não escrutinem com sete olhos, se façam. Que
se façam sempre e se crie o hábito de trabalho em casa – a vida quer muita prática
e rotina bem feitas. A escola necessita desses hábitos, criá-los ajuda a
formar pessoas resistentes e que não atrofiam ao menor sintoma de dificuldade,
que sabem por experiência que há coisas que não sabemos fazer e outras que nem
entendemos, mas que mesmo assim vamos à luta. Os alunos que se batem aos TPCs
aprendem que existem lados da vida onde conseguimos chegar e que, se alguns
chamam pela criatividade, outros pedem tempo e paciência para serem entendidos.
Não acredito que seja por dar uns erritos na cópia ou mesmo nas três palavras
difíceis que o aluno vai passar a escrever pior. Há muitas mais que
aprende e escreve bem. E em todas treina a mão e o carácter.
Julgo que os TPCs sofrem um erro de avaliação. Não são
o que os pais pensam. E até os filhos, habituados no mesmo princípio. Os
famigerados TPCs não têm como finalidade serem todos feitos e bem feitos. São
para o aluno treinar aprendizagens, TÃO SOZINHO QUANTO POSSÍVEL. Fazer o que
souber e deixar o que não sabe; eventualmente, perguntar aos amigos alguma
coisa. São para o professor saber o que aprendeu a criança sobre um assunto, ou apenas para treino. Mas isto afinal é conversa que não posto hoje. Amanhã
se verá.
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