terça-feira, 1 de setembro de 2015

Um Agosto em Itália

Na Margem do Garda

O pensamento colado à lembrança macia do areal português e em desábito de tal grau de humidade abafadiça, visitámos o Garda. Suarento. Amodorrado. Muito concorrido. A tarde, pedindo sombras e água fresca, abeirou-nos da água e das gentes que como nós o demandavam.  Muitos banhistas avermelhavam à torrina. Passámos por eles sem inveja, implorando frondosidades e frescuras de brisa que no Garda inexistem. Tudo é quente. Nas sombras, que abundam, há um calor insidioso a colar em todas as coisas e as pedras de bancos e muros escaldam excessos. Ante tanto corpo a exudar, arrepiámos caminho, ávidos de gelados e brisas. Os gelados encontrámos, que as brisas não coadunam com a itália de veraneio. E sempre muita gente, muito automóvel de longo alcance, muita vida em demanda.
Pode ter sido excesso de multidão, de calor, de humidade. Mas em nenhum lugar daquela margem do Garda se me insinuou a sensação de ameno quotidiano. As localidades que visitámos namorando o lago, sofrem de multidão, são avassaladas. Ainda que belas e cuidadas, prestam vassalagem, apoucam a alma. São zonas esquecidas de dias de tudo igual a horas certas. É um pouco como se ali não haja vida a crescer, só passagem contínua. E não é verdade. Mirei envergonhados salões de cabeleireira, mercearias de bairro, farmácias, pastelarias. Talvez, fora da época estival, ajudem os lugares a sedentarizar, os estruturem e personalizem.

 No meio do vaivém de automóveis que passeavam e soberbos se embrenhavam por aqui e ali, só nos veio à retina uma jovem mulher-polícia de extraordinária beleza e bom porte que, no caminho para Sirmione, nos obrigou a apear. Linda de morrer, suplantava manequins de loja e até o suor lhe quadrava. A convulsão dos pés masculinos em inadvertida travagem, abrandando de encanto, a língua mais lenta, a tartamudear uma qualquer inutilidade, um redondo basbaque a solicitar a atenção expressa da ninfa. E as signoras e signorinas ao lado.  Contentes da feminil eficácia em tão supremo embrulho. Também a invejá-la. Sim. Porém, os três quilómetros que fizemos sob o calor, até ao castelo de Sirmione, calharam mal. E porém. Viva a mulher-polícia mais sedutora do mundo. Uma espantosidade no meio do alcatrão.

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