quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Um Agosto em Itália

Ainda em volta do Garda


            Certa  morrinhenta manhã de calor, resolvemos retomar o Garda na Ponta di Vigílio. Mas nem sempre o homem alcança aquilo por que porfia. Pagámos um inútil estacionamento e, parque lotado, o lugar interditou-se-nos. Nem sequer uma vista de olhos à praia fluvial, também a cobrar. Aziagos com a imodesta usura dos italianos, regressámos ao bolinhas e parámos mais à frente, em Torri del Benaco onde almoçámos o nosso lanchinho num jardinzito aprazível, virados ao esplêndido Garda, ali, reino de patos e cisnes. Nesta povoação de boa memória deleitei-me com um dos melhores gelados de Itália. Ou um dos que mais me agradou. Tinha no nome o termo "mediterrâneo" e, para além do sabor que lhes é único - os gelados italianos mereciam extenso capítulo de livro - havia nele uma particularidade a prender-me: aqui e ali pedacinhos de casca de laranja, amêndoa e outros pequenos ingredientes de trincar. Amei aquele gelado. De amar mesmo. A beijar, lamber, em demoras e vagares que contrariavam o calor, curtíamos um tempo só nosso, empenhados que estávamos em sermos um. Se isto não é amor ou coisa de paixão que mexe, vou ali e já venho. É verdade que das pessoas, gosto. Mas amo gelados italianos. Fortemente. Que se há-de fazer?!
       Renovados (eu a desbordar interesseira reverência às papilas gustativas e à minha intuição), seguimos viagem e saímos   em Brenzone, onde a Céu aproveitou e deu refrigério aos pezitos; eu e o Luís de ténis, os nossos pés entrapados,  também queremos, e nós a fazermos orelhas moucas, fotografando isto e aquilo. Ali estivemos olhando o lago em sua enseada de calor, uma curva de pedras a bordejar. A conselho do Luís, fomos até à igreja medieval que nos esperava, portas abertas, do outro lado da estrada. Que bom  é rever assim um deus em convite. Que hoje, em Portugal, a maioria das igrejas está aferrolhada e só abre portas a rituais; e quanta vez  entreabre portinholas, como se missas e terços sejam coisa secreta. E que deus seja esse que lá mora - se é que mora -, não entendo. Entrámos no pequeno templo: simples, antigo, muito harmonioso; cheirava aos aposentos de Lagusello. Mas ali nos sentámos eu e a Céu a apreciá-lo e descansando do sufoco de calor, enquanto o Luís tomava conta de pertences. 
           Enfim, continuámos viagem até Torbole, zona de praia fluvial, muito concorrida, onde repetimos imagens. O Garda de Torbole é uma rotunda e ventosa barriga de água, que se enche de velas e windsurf, e agrupa um pouco do que apelido “a riviera italiana”: há por ali muita gente, muito dinheiro, muito automóvel último grito (uma data de ferraris, pois então). E há muito corpo descascado, pés calçados e protegidos das pedrinhas cinzentas que areia não há, o corpo olhando de esguelha a toalha aos altos e baixos, a interrogar-se contrafeito, tenho de me deitar ali. De modo que o pessoal a banhos faz treino de faquir, mas sem agudos. Entretanto, encarnejam flamejantes, qual lagosta suada. E conseguem parecer felizes neste calor húmido que desengalga a desidratá-los. Indiferentes à circunstância, ou talvez por vias dela, proliferam mulheres bonitas e bem tratadas, quais sementes que vingaram em terreno fértil.

Então, pretendíamos informações sobre o percurso para a Cascata di Varone e dirigimo-nos ao turismo. Bendito posto de turismo de Torbole e abençoado funcionário simpático e eficiente que nos deu um pressuroso mapa-guia do caminho para a Cascata e Lago di Teno.

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