E
depois do repasto passeámos na praça ao lado, Piazza dei Signori, onde a
estátua de Dante Alighieri dominava em respeito e compenetração. Quase deserta,
pareceu-me mais agradável que a Piazza Erbe, ainda que, objectivamente, seja
falso. Num pátio adjacente à Piazza dei Signori, o Museu de Arte Contemporânea e
a Torre Lamberti. Declinámos visitas, Verona é uma cidade que encarece pertences.
No entanto, deambulámos um pouco e caímos em novo estratagema. Oh, idiotices de
estrangeiro! Galvanizados por um conjunto de túmulos altos que víamos da rua,
comprámos bilhetes supondo que nos dariam entrada a algo mais. E Afinal os
bilhetes – três euros cada - serviam
apenas o objectivo de passearmos entre os restos mortais da família Scalliere cujos
já tínhamos observado e fotografado da rua. Oh almas perseverantemente
insensatas, que não criam juízo nem por nada.
Munidos
de espírito incréu, rumámos à Basílica de Santa Anastácia e ao Duomo ambos requerendo entrada paga em dinheiro vivo. Recusámos pagamentos e fomos
refrescar-nos na cafetaria “Paroles”, por sinal, inesquecível, que não é hábito
haver citações de Ghandi expostas na casa de banho. E por ali nos quedámos descansando,
a observar a fachada da igreja, guardada por um anjo azul de longas asas, a
empalidecer sob a canícula. Não invento; o anjo está lá, na sua factualidade metálica, quiçá pouco angélica.
A
soletrar sombras, percorremos mais algumas ruas e chegámos à ponte romana onde
tanta gente se apoiava, braço estendido
– natural e articial -, as selfies em testemunho irrevogável. Quedei-me
admirando a indiferença corrente das águas, a outra margem de ciprestes a pique,
as cúpulas de igreja a salientar entre o casario que aglomerava pelas colinas.
Olhei a ponte. Tão antiga! Quantos homens a atravessaram e nela passaram, a
crescer sonhos e cortesias. Séculos e séculos de história e somos tão
terrivelmente os mesmos. A vaidade come-nos as intenções, rói-nos desde o interior, impede-nos de ver caminho.
Talvez haja quem não pertença a este mundo rumorejante e palavroso onde até eu
me movo. Empreendedor. Que insta os amigos do Face ou de outra qualquer rede
social, tens de reagir, não podes deixar-te abater, dos fracos não reza a história.
And so on. Talvez esses hoje marginais e outrora normais devessem ser águas de
rio e correr. Correr sempre. Como o Forrest Gump. Porque decerto lhes há muito tempo
em que nenhuma irmandade os chama ou quer. E se reconhecem profusamente sós. Como
é que se vive permeado por selfies e
palmadas nas costas de faz de conta, via facebook
e twitter e o mais que existe de likes.
Não é que seja um mundo devastante, mas desconcerta qualquer mortal pré
histórico. Isso sim..
Pois
é. Quem não é modernaço… hummmm….m…m…m…Dias há em que não tem lugar sentado. Invisível,
ergue-se sobre o seu cansaço. Fora dos brilhos aparentes, abraça ainda sua
ponte romana de traça simples. Lá em baixo, a água continua a correr.
E
depois…bem, foi o cheiro à noite a insinuar pelos campos conhecidos, as curvas
em ondas de feno verde. E Castellaro Lagusello a rematar viagem, com sua ponte
a cheirar a jasmim florido, o carro abrandando de gosto. Casa.
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