terça-feira, 8 de setembro de 2015

Um Agosto em Itália

Verona


E depois do repasto passeámos na praça ao lado, Piazza dei Signori, onde a estátua de Dante Alighieri dominava em respeito e compenetração. Quase deserta, pareceu-me mais agradável que a Piazza Erbe, ainda que, objectivamente, seja falso. Num pátio adjacente à Piazza dei Signori, o Museu de Arte Contemporânea e a Torre Lamberti. Declinámos visitas, Verona é uma cidade que encarece pertences. No entanto, deambulámos um pouco e caímos em novo estratagema. Oh, idiotices de estrangeiro! Galvanizados por um conjunto de túmulos altos que víamos da rua, comprámos bilhetes supondo que nos dariam entrada a algo mais. E Afinal os bilhetes – três euros cada -  serviam apenas o objectivo de passearmos entre os restos mortais da família Scalliere cujos já tínhamos observado e fotografado da rua. Oh almas perseverantemente insensatas, que não criam juízo nem por nada.
Munidos de espírito incréu, rumámos à Basílica de Santa Anastácia e ao Duomo ambos requerendo entrada paga em dinheiro vivo. Recusámos pagamentos e fomos refrescar-nos na cafetaria “Paroles”, por sinal, inesquecível, que não é hábito haver citações de Ghandi expostas na casa de banho. E por ali nos quedámos descansando, a observar a fachada da igreja, guardada por um anjo azul de longas asas, a empalidecer sob a canícula. Não invento; o anjo está lá, na sua factualidade metálica, quiçá pouco angélica.
A soletrar sombras, percorremos mais algumas ruas e chegámos à ponte romana onde tanta gente se apoiava, braço   estendido – natural e articial -, as selfies em testemunho irrevogável. Quedei-me admirando a indiferença corrente das águas, a outra margem de ciprestes a pique, as cúpulas de igreja a salientar entre o casario que aglomerava pelas colinas. Olhei a ponte. Tão antiga! Quantos homens a atravessaram e nela passaram, a crescer sonhos e cortesias. Séculos e séculos de história e somos tão terrivelmente os mesmos. A vaidade come-nos as intenções, rói-nos  desde o interior, impede-nos de ver caminho. Talvez haja quem não pertença a este mundo rumorejante e palavroso onde até eu me movo. Empreendedor. Que insta os amigos do Face ou de outra qualquer rede social, tens de reagir, não podes deixar-te abater, dos fracos não reza a história. And so on. Talvez esses hoje marginais e outrora normais devessem ser águas de rio e correr. Correr sempre. Como o Forrest Gump. Porque decerto lhes há muito tempo em que nenhuma irmandade os chama ou quer. E se reconhecem profusamente sós. Como é que se vive permeado por selfies e palmadas nas costas de faz de conta, via facebook e twitter e o mais que existe de likes. Não é que seja um mundo devastante, mas desconcerta qualquer mortal pré histórico. Isso sim..
Pois é. Quem não é modernaço… hummmm….m…m…m…Dias há em que não tem lugar sentado. Invisível, ergue-se sobre o seu cansaço. Fora dos brilhos aparentes, abraça ainda sua ponte romana de traça simples. Lá em baixo, a água continua a correr.

E depois…bem, foi o cheiro à noite a insinuar pelos campos conhecidos, as curvas em ondas de feno verde. E Castellaro Lagusello a rematar viagem, com sua ponte a cheirar a jasmim florido, o carro abrandando de gosto. Casa.

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