Ao longo de seis dias, calcorreámos
o Garda de muitas faces. Na tarde. Pela manhã. O completo do dia. Em torrina de
sol, com céu nublado, ao entardecer. Observámos a fauna humana a espadanar-lhe
as águas, em cadência de braços e pernas mais e menos experimentados; mirámos o
vagar dos barcos à vela no seu despique de quase parado que sempre avança; em
movimento de pescoço, acompanhámos jovens vorazes de vento, cruzando-se na
prática de windsurf, velas correndo fatais, qual bola em plano inclinado. Vimos
o sulco dos barcos a motor em suas proezas de meio do lago, e olfactivo nos
ficou o fétido de gasóleo; observámos a entrada e saída de passageiros nos
barcos de carreira que o sulcam; à sua beira nos curvámos sobre a paisagem
e a admirámos silentes, num transtorno de alma; ali lanchámos, almoçámos, saboreámos
gelados; correram-nos pelo olhar patos e cisnes donairosos; observámos a
curiosidade viperina das cobras de água, femininas e coscuvilheiras, cabeça
soerguida entre as pedras; assistimos o salto artístico das carpas e vimos
passar apressadas correntezas de peixes que perseguiam ignotos destinos; num
lago de jardim, pequenas tartarugas saudaram-nos da sua lentidão aquosa de
fundo do tempo.
E sempre o Lago di Garda. Imutável na sua beleza de água evaporada que lhe lança pelas costas um suave manto de neblina e sonho, aqui e ali ciprestes a prumo, uma casa ou outra pendurada a espreitar a água. E das escarpas enlaçadas pelo vapor, se desprende um quê de romantismo e beleza terrífica de que as fotos recuperam a superfície. Mas tudo que é belo e bom tem profundidade, e tal grandeza não é captável pela objectiva. Contudo, entranha em facilidade nas almas porosas e flexíveis, a moldá-las devagarmente. E quanto lamento aqueles a quem não é dada a oportunidade. Porque lhes falta esta contemplação depurante que ajuda a endireitar um homem.
E sempre o Lago di Garda. Imutável na sua beleza de água evaporada que lhe lança pelas costas um suave manto de neblina e sonho, aqui e ali ciprestes a prumo, uma casa ou outra pendurada a espreitar a água. E das escarpas enlaçadas pelo vapor, se desprende um quê de romantismo e beleza terrífica de que as fotos recuperam a superfície. Mas tudo que é belo e bom tem profundidade, e tal grandeza não é captável pela objectiva. Contudo, entranha em facilidade nas almas porosas e flexíveis, a moldá-las devagarmente. E quanto lamento aqueles a quem não é dada a oportunidade. Porque lhes falta esta contemplação depurante que ajuda a endireitar um homem.
Certa
tardinha de sol, no afã sempre novo do périplo do Garda, fomos conhecer Salò,
cidade escolhida por Mussolini para capital do Estado Social Fascista, que
empreendeu criar depois da sua deposição. Observada da outra margem, a cidade
surgia linda. Descansava em pose regrada na base da montanha, pés na água, chapinhando descontracção. Num dos lados, atrevia-se ao lago e as pontas bordadas
do vestido boiavam mansamente, água e terra em doce atamento.
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