Limone
sul Garda
Quando
olhámos Salò da margem oposta do Garda, entrevi, lá mais à frente, coladas na
base da montanha, umas janelinhas que me pareceram de infindável comboio, sem
comboio haver. Intrigada, perguntei ao Alberto o que seriam (imagino logo
conventos, monges em voto de silêncio, coisas assim). E o Alberto de boa resposta,
ainda vamos passar ali, é um túnel cavado na rocha. É claro que descansei de
imediato e, como qualquer criança - é sem remédio esta mente meia
infantilizada-, pensei noutra coisa.
Apesar
da extensão de janelas avistadas, no dia aprazado caí impreparada na extensão
e intersecções do túnel. Porque o percurso para Limone tem quilómetros e
quilómetros de túnel arejado - as janelas são afinal arcadas de rocha -, servido por amplas faixas de rodagem. Não é
claustrofóbico, mas o inalterável de quilómetro atrás de quilómetro, comprime.
E apesar da boa oferta, os condutores não se demoram e demandam a ansiosa luz
do sol em céu aberto. Proezas de túnel às costas, quase se sente a respiração a
acomodar mal o dia claro repete o seu inacreditável luminoso. E Limone surge em
beleza desvelada. Oh Itália tão bonita e tão cheia de gente! Limone é uma graça
onde natureza e criação humana se entrelaçam. Imagino que ambas perdidas no
emaranhado humano, nas lojas de gelados e pizza e carteiras de pele e casacos e
bordados e o diabo a sete. Mas depois subimos e vai-nos surgindo uma povoação
quase normal, frisos de limões em todas as placas de rua e um jardim deserto e
lindo onde a autarquia se esmerou a vários níveis, incluindo o de oferecer a
quem passe água gaseificada, líquido muito ao gosto italiano. Depois da
balbúrdia, sentamo-nos no remanso sombreado
do caramanchão. Meia hora de deleite em paisagem e lugar, olhos perdidos, mente
em desvario. E a minha memória (também a fotográfica) guardou o Alberto e a Lina, juntos num banco a conversar; e era um
entendimento tão bonito de ver que apagava o Garda, as plantas e o mais.
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