segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Um Agosto em Itália


Desesperança à Beira de Ravena


Ignoro soluções capazes de reverter a situação. Não imagino sequer que a Europa, a braços com a sua própria crise de egos disfarçados de bem comum, possa garantir cidadania e dar guarida a tanta gente que a invade faminta e exausta, na esperança de um eldorado inexistente. E nem sei se a mesma Europa que agora se ergue a favor dos refugiados – como se eles não viessem de há muitos anos – quer mesmo torná-los seus iguais. Oxalá queira. Mas, e inda que o deseje, até quando pode?! Pergunto-me se os tantos estados democráticos que existem no mundo – afirma-se à boca cheia que estamos na era da globalização -  não poderiam actuar por forma a evitar o êxodo. Não se pensa que esta gente sai de sua casa e deixa família, o país a que pertence, um lugar próprio e entre iguais onde também ela tem direito à cidadania. E depois há a enorme injustiça social que se continua como em todas as guerras anteriores: àqueles que não têm bens, é vedada a fuga; não havendo dinheiro para intermediários que tanta vez os atiram à morte, permanecem. Morrem. Penam. São estropiados da guerra e do ódio irracional que grassa, os valores soterrados.
Pergunto se a piedade humanitária é só isto, só esta súbita compaixão pelos refugiados do presente e que são só alguns dos habitantes de países devastados a que assistimos de camarote à mesa do jantar…E dói. Dói que em Itália - e talvez noutros países - não seja permitido dar esmola ou emprego àqueles deserdados da sorte que deixaram tudo para trás, arriscaram a vida em condições sub-humanas para chegar à bola de sabão europeia que depois, tanta vez, os recambia. Dói não saber resolver este sofrimento.

O mundo tem que se fazer diferente. Renovar-se. Porque a boa vontade que os nossos estados democráticos demonstram hoje é apenas e só um limiar. Um hall. Ora, o hall não é uma casa.
Veremos o que decidem os senhores políticos. E como o praticam.

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